A imensidão azul do filme de Krzysztof Kieslowski é avassaladora. Não só a azul, mas também a quase neutra dos cafés da não turística Paris.
Em um ambiente quase úmido pelas quase lágrimas, passamos mais do que rapidamente de uma estrada para os detalhes da tristeza de Julie, que em seu período de luto, busca a liberdade ao fugir das armadilhas da vida, luxo, amores, vínculos, lembranças, medo, tudo o que daria a ela gana de viver.
Enredo a parte, o filme se destaca pela acuidade de seu diretor. Cheio de detalhes e com o tempo certo para que o espectador entenda que a protagonista está concentrada em seu mundinho, como o torrão de açúcar absorver café em 5 segundos, Kieslowski se preocupou em deixar entendível o abandono de Julie para com o resto do mundo.
Entre outras coisas, também se destaca a personificação da trilha sonora, que persegue Julie, lembrando-a sempre do passado e da dor, e a fotografia, que vinculada aos demais elementos, traz o azul como uma matéria que remete à tristeza, e as luzes provenientes de reflexos de líquidos, como se Julie estivesse derretendo por dentro.
Sem controle
E agora, Julie?
Está sem família
Está sem colo de mãe
Não consegue morrer
Não consegue viver
Não consegue amar
Já não pode chorar
Já não pode cantar
Já não pode tocar
Sentir não quer mais
E agora, Julie?
Vai buscar outro canto
Aquele que não lembre ninguém
Do passado só o lustre
Azul como a tristeza
Que estremece só de olhar
E agora Julie?
O tempo avança
A música a acompanha
O medo permanece
E sua filosofia vai ficando para trás
E agora Julie,
Voltarás para o mesmo colchão?
E agora, você?
Que também se transforma
Que não tem onde se apoiar
Você que se joga no Azul
Paula Rocha,
Outubro de 2011
Pensando no José de Drummond