sábado, 24 de setembro de 2011

O Anjo Azul

Alemanhã, 1930, milhões de desempregados, falências e a produção caindo em todos os setores, é a crise econômica recomeçando com força total. Na política, além dos golpes de direita e esquerda já sucedidos, o partido nazista acaba de eleger mais deputados do que o partido comunista, é a ‘era Hitler’ se fortalecendo.
Em meio a este cenário desolador, a indústria do cinema estava a ponto de lançar um dos mais cultuados filmes alemão, “O Anjo Azul”, com características expressionistas (observadas nos cenários, ao fazer uso de sombras, e ao tratar a degradação moral da nobreza intelectual alemã materializada em um personagem). Baseado no livro Professor Unrat de Heinrich Mann, o filme é a obra decisiva na vida de seu diretor, Joseph Von Sternberg, que é convidado a dirigir devido a sua experiência com o cinema sonoro.





Em termos de câmera, o filme traz características ainda do cinema mudo com traços teatrais, muitos enquadramentos fixos e alguns movimentos sutis, prendendo os personagens – e nós espectadores – dentro de cenários escuros e enredados pela decoração marítima da cidade e do cabaré em que se passa parte importante da estória.
Mas o elemento que se destaca, principalmente por ser muito novato no cinema, é som. Com apenas 3 anos desde o primeiro filme sonoro, “O Anjo Azul” usou este elemento não somente como um componente de aproximação da realidade, mas também para ligar planos (cena inicial da cidade e sua rotina) e construir espaços off (som quando abre a porta do camarim de Lola-Lola e na sala de aula). Mas estas mesmas cenas que constroem os espaços off também apresentam as portas e janelas como materiais isolantes, que são usados de forma displicente – a porta do camarim e a porta da sala de aula quando os alunos estão zombando do professor não têm o mesmo poder de isolar.
Linguagem cinematográfica à parte, vale destacar que o resultado foi satisfatório para seus realizadores contando com o sucesso que fez, e também foi responsável pela criação do mito “Marlene Dietrich”, a mulher fatal.







Na cátedra sou autoridade
Posso falar de Hamlet
Ser ou não ser não é a questão
Pratique e aceite
Fale com Shakespeare
Seja assim, um exemplo
Seja um homem sério
Seja um homem culto

Não importa o que tem lá fora
Teu comportamento é mau
Não está certo
Lá não é lugar para vocês
Volte para casa
Descanse para o dia de amanhã

Amanhã sairei para desculpar-me
Ou talvez seja somente pelo prazer
Agora sei o que tem lá
Lá tem encanto
Tem canto
Tem pernas para me apoiar

Agora lá quero ficar
E esbaldar nessa loucura
Esqueça Shakespeare ou o resto que já esqueci
Só quero a aliança
O amor de Lola
Viver e brindar

O tempo queima
E minha vitalidade se esvai
Fiquei sem a literatura
Fiquei sem a dignidade
Acabei no cabaré
Humilhado, sem eira, nem beira, nem pernas
E da vida de antes
Só a sala vazia

Paula Rocha, 09/2011

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